O humor é sempre uma
maneira de arejar o espirito critico.
Sobretudo quando este se
fecha em quartos bolorentos e de ar viciado
Uma amiga envia-me esta novidade, que circula, suponho eu, nas redes sociais…
Não se esqueça. Entra em vigor no final do ano.
Para começar o Governo terá de imprimir 9 milhões… depois se verá…
O Governo já criou um novo cartão, não sei se conhecem, aí vai ….
Diz que dá acesso a vários serviços de luxo…
· Dormida em albergues;
· Pagamento das taxas de saúde em suaves prestações mensais;
· Roupa e alimentação no banco alimentar;
· Isenção de impostos que não existam;
· Momentos de convívio e lazer nos jardins públicos;
· Entre outros…
Esta certo até certo
ponto, porque há aqui uma simplificaçao abusiva.
Uma questao de numeros.
Nove milões é capaz de ser um exagero.
Um exagero que exprime uma questão politica. Porque neste jardim
(queimado, abandonado, cimentado e seco) à beira mar plantado, há apesar de
tudo uns bons milhares que não vão ter direito a cartão. Estou a pensar na
burguesia portuguesa, velhos e novos ricos, mafias financeiras, especulativas e
outras, castas e classes politicas, militares, burocracias improdutivas que vão
sugando o eterno « bom povo
portugês ».
Onde eu quero chegar é à
ideia da Rosa, uma velha amiga nossa, que dizia há uns anos já : «O
inimigo esta entre nós ». É salutar lembrá-lo nestes dias em que sobe das
ruas e praças o barulho dos gritos contra aquela triste senhora alemâ vestida
de pijama (Made in China, by the way)
que vem visitar o seu filho adoptivo Gaspalazar e comparsas.
Mas que parvoíce ! A
importância espetacular que se dá a esta mulher é descabida. Há um espetaculo,
montado e alimentado pelos senhores locais do poder, que permite desviar a
cólera popular. Os eternos culpados do estrangeiro ! E é uma bênção para
os outros tristes da historia, os paralíticos da politica moderna, a tal
esquerda cujo último comércio possível é a venda dos valores do nacionalismo e
do patriotismo saloio. Como diziam os
indignados espanhóis: « A esquerda é ao fundo do corredor, à
direita ». Não deixa de ser interessante sublinhar que, em Portugal, estes
valores são veiculados antes de mais por certa gente de esquerda. O que, por si
só, é uma excelente razão par não se ser de esquerda — que é uma variante da
direita e viceversa!
Como tem sido sublinhado
neste blog pelo Miguel Serras Pereira e pelos comentários do João Bernardo,
entre outros, há que recusar, romper com, ultrapassar toda a reflexão
contaminada por semelhantes valores. Esse espírito crítico, que nos permite
continuar vivos e perceber de onde vimos e para onde nos levam, exige essa
atitude.
Para o chamado cidadão
médio, esta orientaçao nacionalista parece o caminho mais facil de sair do
túnel do empobrecimento onde o fecharam. Erro grave. Por um lado, porque esta
ideia, como muitas outras, já nao se adapta à situação presente. O país já não
existe, não tem economia viavel, foi destruído e pilhado pelos grandes grupos
capitalistas europeus com a cumplicidade bem remunerada da classe capitalista
local. Que foi de férias para as offshore,
para o Brasil e para Africa. Um nacionalismo sem economia e de campos de golf é
a mesma coisa que uma emigração que não encontra trabalho. Mais uma dessas
ideias velhas que estão nas prateleiras e em que o cidadão pega, pensando que é
eficaz quando a verdade é que é inutil. Mas também — e é aqui que a coisa é
mais grave e compromete os que a defendem — este regresso à dita « soberania
nacional » implicará necessariamente, não só mais miséria, mas também o
regresso do autoritarismo por parte do poder politico. Um novo totalitarismo é
o preço da mísera « independência nacional ». Fico à espera da prova
do contrario.
E se, em alternativa,
optássemos por propostas que desenvolvam a autonomia, a criatividade e a
solidariedade dos que sofrem e são vítimas desta situaçao ? Que criem
laços de internacionalismo, entre as
sociedades europeias. Como fazem os que lutam
aí mesmo ao lado, em Córdova, em Sevilha, em Mérida, em Vigo. Acompanhadas
por uma discussão aberta sobre as condições criadas pelo sistema : quem
emprestou, a quem emprestou, para onde foram os fundos financeiros, qual é o
peso dos juros já pagos, entre muitas
outras questões. Que permitam desmistificar
o fetiche da « Dívida », revelar a seu conteúdo de classe,
perceber o que se passa. Enfim voltar a ver tudo isto como o problema de um
sistema, uma organização social, que têm nome — o capitalismo. E que deixem os
moralismos dos malandros dos maus políticos (como se houvesse bons) para as
homilias da Páscoa. Discursos repetitivos que se estão a tornar monótonos e
ridículos.
Os outros, os que insistem
em chorar por pátrias, bandeiras e independências, que deixem de ler blogs e de
perder tempo em manifestações, que se alistem na Guarda Republicana e nas
Forças Armadas prontos para defender a pátria do BCP e do Millennium. Durante
os primeiros mese serão pagos, depois já não garanto nada…